domingo, 28 de novembro de 2010

Um dia para passear

Seria bem legal se todos os dias fossem dias para passear, sem preocupações.

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sábado, 1 de maio de 2010

CAPÍTULO DOIS - PATRÍCIA

Pois esta é a história de Walter. Muitos diriam que na verdade, a personagem principal da história é Patrícia, já que foi por causa dela que tudo aconteceu. Mas seria a maior das injustiças atribuir a alguém tão melindroso e vil a maior carga de incapacidade de se planejar e colocar em prática qualquer coisa que exigisse uma certa astúcia maior. Não quero com isso dizer que o Walter fosse um energúmeno. Acho que a etimologia da palavra não se aplica a ele em pleno sentido. Na verdade, ambos foram, em muitos aspéctos, descuidados. Estamos falando de pessoas que, apesar de terem alcançado a maioridade há não muito tempo, já tinham experiência de vida o suficiente para levar cabo o que se propuseram a fazer. Patrícia estava com vinte e três anos. Era casada com um caminhoneiro chamado Batista, porém, ainda não tivera filhos. Moravam numa casa na rua principal de Longa Espera, bairro situado cinquenta e três quilômetros a noroeste de Montes Claros, com acesso dificultado, através de uma estrada tortuosa e esburacada, subindo o morro da ovelha. Ela odiava aquele lugar e odiava ainda mais o fato de que Batista se orgulhava em dizer que jamais sairia de lá. "Aqui é muito bom!" dizia ele, vangloriando-se de possuirem uma casa e um caminhão. Esta noção de segurança que ele empurrava-lhe garganta abaixo não só não era digerida, como a enfraquecia. Batista acreditava estar-lhe fazendo um grande favor, principalmente após ter pago (a crontragosto) por seus estudos. Mas não deixou-a prestar vestibular para o curso de veterinária em Água Santa, mesmo este sendo em uma universidade pública, pelo fato de ela ter que viajar sem ele por perto todos os dias, no ônibus que a prefeitura cedera aos alunos. Ele estava com trinta e oito anos de idade e já houvera sido casado por duas vezes. "Ticinha", como a chamava, era muito mais bela do que as suas ex-esposas e arrisco-me a dizer que era a mais bela jovem de Montes Claros inteiro. Seu cabelo negro e liso, junto com seu rosto de traços finos, trazia da família de seu pai. Já a pele branca e sedosa herdara da mãe. Durante alguns anos os filhos de Seu Alcides Trindade e os de Seu Genoval de Oliveira, fazendeiros conhecidos de Montes Claros, tentaram cortejá-la. Foi noiva de João, dos Trindade e namorou com Carlos "Tortinho" Oliveira (que ficou manco da perna esquerda após cair da cachoeira do morro da correnteza). João terminou o noivado após ter sido convidado a trabalhar como médico em São Paulo (o convite caiu-lhe como a desculpa pereita, já que cinco meses antes ela engravidara dele, perdendo o bebê no segundo mês de gestação). Dissera a ela que não estava pronto para assumir compromissos desse porte, já que sua carreira estava apenas começando e a possibilidade de ser pai foi-lhe prematuramente traumática. Já com "Carlo Tortinho" não se aprofundou tanto no relacionamento, uma vez que ele era alcólatra e a agrediu na cabeça com um prato de porcelana, durante a festa de aniversário de seu primo. A família dele pediu-lhe desculpas formais, que não foram suficientes para fazê-la continuar com ele. O Batista ela conheceu na quadragésima sexta festa da queimada, um evento folclórico que culminava com uma grande queima de fogos, e com ele fora morar. Vez por outra, quando estavam em grandes dificuldades financeiras, ela recorria a seu pai, que era dono de uma mercearia em Montes Claros, ou conseguia algum trabalho temporário, como nos últimos três anos na fábrica de fogos de artifícios Consagração. Ela era bastante inteligente e determinada, aprendendo rápido todos os ofícios nos quais trabalhava, e não estava nem um pouco contente com a possibilidade de ver sua vida afundar para sempre naquela "cidadezinha de merda", sendo esta apenas uma das muitas formas verbais com as quais ela amaldiçoava a Longa Espera. Seu marido costumava passar de dois a cinco dias fora e não se demorava em casa nos seus dias de folga. Ela o tinha como um homem altamente desprezível, mas possuia uma incrível capacidade de esconder seus verdadeiros sentimentos, embora admitisse estar ficando cada vez mais sem paciência com a forma como ele a tratava. Não era de seu feitio ser tão submissa, a menos que para outra situação não houvesse escapatória. Gostava de usar vestidos floridos e seu preferido era um de cetim que sua tia Marta lhe dera em seu último aniversário; preto com margaridas estampadas, com alças largas e um belo decote que expunha boa parte de seus seios medianos ; o único vestido curto que Batista a permitia usar, pois deixava-a linda demais; como um anjo. Mesmo com tanta beleza ela era a tradução do descontentamento de ter nascido ali e de ver seu desejo de conhecer lugares, pessoas e amores diferentes se desfazer para sempre por causa do comodismo do seu marido. Pensou várias vezes em fugir enquanto ele estivesse fora, em suas viagens para o nordeste, nas quais levava cerca de dez dias trabalhando. Quando ele chegasse ela já estaria longe, muito longe dali. Esse era o seu derradeiro plano e ela já havia começado a arquitetar a fuga. Disse-lhe que precisavam ampliar a casa, fazendo mais um quarto, porque ela finalmente decidira ceder aos desejos dele e engravidar. Certamente essa notícia causou grande alegria em Batista, que era o único dentre seus irmãos que ainda não tinha filhos. Mas para tal reforma não tinham dinheiro o suficiente, de modo que ela teria mais uma vez que trabalhar uma temporada na fábrica de fogos. O que ela ganharia em quatro meses de trabalho daria para fazer mais da metade da obra, mas o seu plano era pegar sua parte e mais a dele e fugir para a casa de sua prima Rosa em Campo do Frade, à 1.323 Km dali, no norte do estado, de onde ela decidiria para onde ir em seguida. Estava disposta a se aventurar e disposição não lhe faltava, pois a guardara por toda sua vida. Ela estava ansiosa pelo início da temporada de festas, que demandavam da fábrica grandes encomendas de fogos de artifícios e já no dia seguinte foi ao escritório do Sr. Santana, dono da Consagração e nas mãos deste deixou seu currículo. Contava os dias enquanto submetia-se ao sexo frio com Batista, para o qual mentira ter parado de tomar anti-concepcionais. Dois de maio era a data que lhe informaram ser o início das contratações temporárias. Seu nome estava na lista que foi colada na portaria da fábrica, desta vez para trabalhar no escritório, como secretária do Sr. Santana. Faltava uma semana para seu caminho cruzar com o de Walter.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Lançamento oficial do livro "Peixe e pólvora no desterro" - Autores: Ivan Lee e Terceiro.

Olá amigos! Espero que gostem do conto! Vou postar os capítulos neste tópico e vocês podem ficar a vontade para ler, comentar e imaginar como vai ser o fim desta estória!!
Um grande abraço a todos!!!


PEIXE E PÓLVORA NO DESTERRO


CAPÍTULO I - ACORDE!

Ele sentiu medo. Além de medo, solidão. Fugir, algo que fizera por toda sua vida, não parecia mais ser tão fácil. Estava tão próximo de um recomeço, com a mulher que desejou e conquistou, com dinheiro suficiente para comprar muitas coisas que desejara tanto. Mas a culpa o observava pelos buracos nas janelas e no telhado velho, beliscando-o na escuridão e fazendo ruídos no canaval lá fora. Aquela noite não lhes dera trégua para um sono tranquilo.
Acordou, e com um só pulo pôs-se de pé, suado e ofegante, assustado, temendo que estivessem sendo observados. Patrícia acordou assustada com seus delírios. Acendeu uma vela, enquanto seu amante andava de um lado para o outro dentro do quarto. Ela ainda sentia fortes dores no seu tornozelo e joelho direitos, que estavam bem inchados. Com dificuldade sentou-se na cama de alvenaria e, estendendo-lhe a mão, perguntou: - O que está acontecendo? A isto ele respondeu:
- Ah, desgraça! Não era pra ser assim! Porquê?! E a Clarice! Droga!! Como eu sou burro! O que diabos ela foi fazer lá?! Alguém contou pra ela; só pode! E seria bem dela mesmo acreditar! Não era pra ser assim! Não era!
- Não era, mas é! disse Patrícia segurando-o firme pelo braço. - O que você esperava? Nós não planejamos direito essa merda! Não adianta mais. Agora é que a gente tem que fugir mesmo. Não tem mais como voltar e consertar.
- Eu sei, eu sei! Puta merda, que vacilo! Será que já apagaram o fogo? Será que acham mesmo que a gente morreu lá? Será que a polícia tá atrás da gente?
- Como é que eu vou saber? ela dizendo agora, soltando o braço de Walter, que voltava a andar desgovernadamente, pondo a mão na cabeça e na altura do estômago.
- Estou enjoado! Minha barriga tá doendo muito. Ai! Será que alguém via a gente fugir?
Ela calou-se por um momento, para não ofendê-lo, pois entendeu que ele estava em estado de choque. Pôs a mão na cabeça e respirou fundo por uns trinta segundos. Disse-lhe então:
- Walter, presta atenção: Não tinha mais ninguém lá além do Batista e Clarice. Estes a gente sabe que não vão falar nada. Além do mais, a gente subiu no trem assim que saímos do milharal. Depois disso você foi à drogaria em Mestiço, mas já estávamos bem longe de Montes Claros. Além disso, tem os dois corpos que a gente colocou lá. Com certeza a polícia vai achar a arma e vão concluir que alguém começou a atirar depois de uma briga, o tiro acertou o paiol e a porra toda explodiu. Só o Clóvis sabe que a gente tá vivo, mas ele também é outro que não vai à polícia mesmo! E tem outra coisa: a gente vai sair do país daqui em no máximo três dias. Se descobrirem a nossa farsa, já estaremos longe e com outros nomes. O que a gente tem que fazer é ficar calmo e fazer as coisas direito. Vem cá, senta aqui comigo. Ele sentou-se ao seu lado, ainda ofegante, mas aos poucos ia retomando seus sentidos. Ambos estavam muito cansados, fétidos e atordoados. Ela começou a afagar-lhe os cabelos, deitando-lhe a cabeça entre seus seios. - Preciso fumar! disse ele, levantando-se e pegando os cigarros na bolsa, acendendo um na vela, única fonte de luz do recinto. - Deita e descansa, Patrícia, e desculpa por eu ter te acordado. Eu vou lá pra fora fumar meu cigarro. Daí ele apagou a vela e foi caminhando no escuro pelo corredor até a escadinha de três degraus que ficava na porta da sala, sentando-se. A noite estava quente, porém sem mosquitos. A casa estivera abandonada por três anos. Já não tinha quase janelas e portas, devoradas por cupins, e as madeiras do telhado já não suportavam com tanta dignidade o peso das telhas, que como numa boca de dentes mau cuidados caíam a cada dia mais. Fezes secas na cozinha indicavam que vez por outra alguém por ali passava. No quintal da frente havia uma mangueira grande, com a copa arredondada e nela pendia uma velha corda. Um pouco a esquerda ficava um poço, com uma borda de cinquênta centímetros de altura, seco e com meia duzia de pequenas mangueiras que ali brotaram de seus caroços, além de muitos galhos, folhas e a carcaça de um pequeno gambá. Debaixo da janela da sala cresceu uma goiabeira, que já alcançava a cumeeira, incomodando uma das muitas casas de marimbondos que se espalhavam pelo telhado e estendia seus galhos para dentro da casa, arranhando a parede lateral ao balançar-se ao vento quente. A casa ficava no alto de um morro, cercada de cana por todos os lados, fazendo jus ao nome do lugar, como uma ilha solitária em um oceano verde. Um pequeno aceiro servia-lhe de acesso frontal, descendo em curvas até terminar perpendicular a estrada maior, uns trezentos metros abaixo. Patrícia conhecia o lugar, pois o sítio pertencia a seu marido, Clóvis, que tentou conservá-lo durante alguns anos após herdá-lo do pai. Mesmo com o poço seco, ela sabia que se andassem mais alguns metros na estrada maior encontrariam um pequeno caminho íngreme, para uma baixada onde havia uma fonte com água potável, que formava um riacho. O sítio vizinho mais próximo ficava à ceca de três quilômetros. O lugar era ermo, mas a altura das canas indicava que a terra vinha sendo cultivada e que próxima estava sua queima e corte. Isso incomodou a Patrícia, já que até aquele momento tiveram muitos contratempos e não lhe agradava a idéia de pessoas rondando o local. A lua nova garantia a total escuridão. As nuvens refletiam as luzes de Araguajara ao sul e de Mestiço a noroeste, ambas num raio de trinta quilômetros de distância.
Walter já estava em seu quinto cigarro. Pensava em Clarice. Lembrou-se com remorso de seu último olhar, que lhe cortava a alma mais do que qualquer outra dor que estivesse sentindo. Chorou baixo ali sentado, tentando não acordar Patrícia. Vacilou algumas vezes em seus turvos pensamentos, questionando os motivos de estar ali. "Não era pra ser assim, não era!!" atormentava-se. Desde a morte de seus pais ele não ficava tão triste. O céu estava aberto. Estrelas, vagalumes e cigarros eram as únicas luzes daquela noite escura. Patrícia dormia um sono profundo, dopada por analgésicos. Walter começava a sentir novamente sono. Apagou o cigarro e arrastou-se até o canto menos sujo da sala, dormindo ali mesmo. Já eram três e vinte da manhã.



sábado, 10 de abril de 2010

CARMALEÃO

Este é o pontapé inicial para o meu blog. Vejamos no que vai dar, né! Abraços!