segunda-feira, 12 de abril de 2010

Lançamento oficial do livro "Peixe e pólvora no desterro" - Autores: Ivan Lee e Terceiro.

Olá amigos! Espero que gostem do conto! Vou postar os capítulos neste tópico e vocês podem ficar a vontade para ler, comentar e imaginar como vai ser o fim desta estória!!
Um grande abraço a todos!!!


PEIXE E PÓLVORA NO DESTERRO


CAPÍTULO I - ACORDE!

Ele sentiu medo. Além de medo, solidão. Fugir, algo que fizera por toda sua vida, não parecia mais ser tão fácil. Estava tão próximo de um recomeço, com a mulher que desejou e conquistou, com dinheiro suficiente para comprar muitas coisas que desejara tanto. Mas a culpa o observava pelos buracos nas janelas e no telhado velho, beliscando-o na escuridão e fazendo ruídos no canaval lá fora. Aquela noite não lhes dera trégua para um sono tranquilo.
Acordou, e com um só pulo pôs-se de pé, suado e ofegante, assustado, temendo que estivessem sendo observados. Patrícia acordou assustada com seus delírios. Acendeu uma vela, enquanto seu amante andava de um lado para o outro dentro do quarto. Ela ainda sentia fortes dores no seu tornozelo e joelho direitos, que estavam bem inchados. Com dificuldade sentou-se na cama de alvenaria e, estendendo-lhe a mão, perguntou: - O que está acontecendo? A isto ele respondeu:
- Ah, desgraça! Não era pra ser assim! Porquê?! E a Clarice! Droga!! Como eu sou burro! O que diabos ela foi fazer lá?! Alguém contou pra ela; só pode! E seria bem dela mesmo acreditar! Não era pra ser assim! Não era!
- Não era, mas é! disse Patrícia segurando-o firme pelo braço. - O que você esperava? Nós não planejamos direito essa merda! Não adianta mais. Agora é que a gente tem que fugir mesmo. Não tem mais como voltar e consertar.
- Eu sei, eu sei! Puta merda, que vacilo! Será que já apagaram o fogo? Será que acham mesmo que a gente morreu lá? Será que a polícia tá atrás da gente?
- Como é que eu vou saber? ela dizendo agora, soltando o braço de Walter, que voltava a andar desgovernadamente, pondo a mão na cabeça e na altura do estômago.
- Estou enjoado! Minha barriga tá doendo muito. Ai! Será que alguém via a gente fugir?
Ela calou-se por um momento, para não ofendê-lo, pois entendeu que ele estava em estado de choque. Pôs a mão na cabeça e respirou fundo por uns trinta segundos. Disse-lhe então:
- Walter, presta atenção: Não tinha mais ninguém lá além do Batista e Clarice. Estes a gente sabe que não vão falar nada. Além do mais, a gente subiu no trem assim que saímos do milharal. Depois disso você foi à drogaria em Mestiço, mas já estávamos bem longe de Montes Claros. Além disso, tem os dois corpos que a gente colocou lá. Com certeza a polícia vai achar a arma e vão concluir que alguém começou a atirar depois de uma briga, o tiro acertou o paiol e a porra toda explodiu. Só o Clóvis sabe que a gente tá vivo, mas ele também é outro que não vai à polícia mesmo! E tem outra coisa: a gente vai sair do país daqui em no máximo três dias. Se descobrirem a nossa farsa, já estaremos longe e com outros nomes. O que a gente tem que fazer é ficar calmo e fazer as coisas direito. Vem cá, senta aqui comigo. Ele sentou-se ao seu lado, ainda ofegante, mas aos poucos ia retomando seus sentidos. Ambos estavam muito cansados, fétidos e atordoados. Ela começou a afagar-lhe os cabelos, deitando-lhe a cabeça entre seus seios. - Preciso fumar! disse ele, levantando-se e pegando os cigarros na bolsa, acendendo um na vela, única fonte de luz do recinto. - Deita e descansa, Patrícia, e desculpa por eu ter te acordado. Eu vou lá pra fora fumar meu cigarro. Daí ele apagou a vela e foi caminhando no escuro pelo corredor até a escadinha de três degraus que ficava na porta da sala, sentando-se. A noite estava quente, porém sem mosquitos. A casa estivera abandonada por três anos. Já não tinha quase janelas e portas, devoradas por cupins, e as madeiras do telhado já não suportavam com tanta dignidade o peso das telhas, que como numa boca de dentes mau cuidados caíam a cada dia mais. Fezes secas na cozinha indicavam que vez por outra alguém por ali passava. No quintal da frente havia uma mangueira grande, com a copa arredondada e nela pendia uma velha corda. Um pouco a esquerda ficava um poço, com uma borda de cinquênta centímetros de altura, seco e com meia duzia de pequenas mangueiras que ali brotaram de seus caroços, além de muitos galhos, folhas e a carcaça de um pequeno gambá. Debaixo da janela da sala cresceu uma goiabeira, que já alcançava a cumeeira, incomodando uma das muitas casas de marimbondos que se espalhavam pelo telhado e estendia seus galhos para dentro da casa, arranhando a parede lateral ao balançar-se ao vento quente. A casa ficava no alto de um morro, cercada de cana por todos os lados, fazendo jus ao nome do lugar, como uma ilha solitária em um oceano verde. Um pequeno aceiro servia-lhe de acesso frontal, descendo em curvas até terminar perpendicular a estrada maior, uns trezentos metros abaixo. Patrícia conhecia o lugar, pois o sítio pertencia a seu marido, Clóvis, que tentou conservá-lo durante alguns anos após herdá-lo do pai. Mesmo com o poço seco, ela sabia que se andassem mais alguns metros na estrada maior encontrariam um pequeno caminho íngreme, para uma baixada onde havia uma fonte com água potável, que formava um riacho. O sítio vizinho mais próximo ficava à ceca de três quilômetros. O lugar era ermo, mas a altura das canas indicava que a terra vinha sendo cultivada e que próxima estava sua queima e corte. Isso incomodou a Patrícia, já que até aquele momento tiveram muitos contratempos e não lhe agradava a idéia de pessoas rondando o local. A lua nova garantia a total escuridão. As nuvens refletiam as luzes de Araguajara ao sul e de Mestiço a noroeste, ambas num raio de trinta quilômetros de distância.
Walter já estava em seu quinto cigarro. Pensava em Clarice. Lembrou-se com remorso de seu último olhar, que lhe cortava a alma mais do que qualquer outra dor que estivesse sentindo. Chorou baixo ali sentado, tentando não acordar Patrícia. Vacilou algumas vezes em seus turvos pensamentos, questionando os motivos de estar ali. "Não era pra ser assim, não era!!" atormentava-se. Desde a morte de seus pais ele não ficava tão triste. O céu estava aberto. Estrelas, vagalumes e cigarros eram as únicas luzes daquela noite escura. Patrícia dormia um sono profundo, dopada por analgésicos. Walter começava a sentir novamente sono. Apagou o cigarro e arrastou-se até o canto menos sujo da sala, dormindo ali mesmo. Já eram três e vinte da manhã.



sábado, 10 de abril de 2010

CARMALEÃO

Este é o pontapé inicial para o meu blog. Vejamos no que vai dar, né! Abraços!